Clístenes Williams Araújo do Nascimento é professor da UFRPE e membro da Academia Pernambucana de Ciências
Imagine um mundo em que a solução para limpar um solo contaminado com metais pesados, como chumbo, níquel e cádmio, estivesse na própria natureza. Esse mundo existe, graças a plantas com um superpoder: elas “comem” metais. São as chamadas hiperacumuladoras, que armazenam metais em quantidades tão grandes que podem ser usadas para limpar áreas poluídas e até mesmo minerar metais de uma forma mais sustentável. Ao contrário da maioria das plantas, que morreriam ao tentar absorver quantidades tão elevadas de metais tóxicos, as hiperacumuladoras conseguem processar esses elementos sem sofrer danos. Isso porque desenvolveram mecanismos para isolar esses metais em compartimentos celulares específicos, evitando problemas em seu metabolismo. A hiperacumulação de metais ocorre principalmente em plantas de regiões com solos ricos em metais, conhecidos como solos ultramáficos. O Brasil, um país onde a mineração tem destaque mundial, possui imensas áreas, por exemplo, em Goiás, Pará, Bahia, onde plantas “comedoras de metais” se adaptaram e evoluíram para tolerar – e até depender – desses metais para sobreviver. Em um planeta onde o crescimento urbano e industrial contamina o solo, a importância dessas plantas é imensa. A contaminação do solo é um problema sério: muitos metais são tóxicos, podem poluir os solos, as águas subterrâneas e representam um risco à saúde humana e ao ambiente. Remover esses metais do solo é difícil e caro. As hiperacumuladoras podem ajudar a resolver o problema de uma maneira econômica e sustentável. Além disso, elas oferecem uma alternativa promissora para a mineração tradicional de metais. A agromineração, uma área de estudo do nosso Grupo de Pesquisa na UFRPE, é o processo de cultivo dessas plantas para extrair metais do solo, reduzindo o impacto ambiental da mineração convencional. Após o cultivo, as folhas ricas em metais são colhidas e processadas para extrair o metal, contribuindo para uma mineração mais ecológica. Entre as plantas hiperacumuladoras mais conhecidas estão as que acumulam níquel, um metal utilizado na fabricação de baterias, ligas metálicas e aço inoxidável. O Brasil tem uma das maiores biodiversidades do mundo, incluindo várias espécies endêmicas que podem ter potencial para hiperacumulação de metais. Pesquisadores brasileiros têm se interessado cada vez mais por essa área, com estudos focados tanto na identificação de espécies nativas com alto potencial de acumulação quanto no desenvolvimento de métodos para tornar o processo mais eficiente. O país também pode se beneficiar economicamente com as plantas hiperacumuladoras, que representam uma revolução silenciosa no combate à poluição e na busca por métodos de mineração mais verdes. O potencial dessas plantas para transformar áreas contaminadas em solos férteis e para reduzir o impacto ambiental da mineração é imenso. No Brasil, a exploração dessa tecnologia pode se tornar uma solução eficaz para problemas ambientais. A natureza, mais uma vez, pode ser nossa aliada na construção de um futuro mais limpo e sustentável.
Artigo publicado originalmente no site da UOL